Clínicas de Saúde com Gestão de Negócio: O Fim da Era do Profissional Autônomo?
Empreendedores da área da saúde adotam modelos empresariais para crescer de forma estruturada e sustentável.

A figura do profissional de saúde que atua como autônomo em consultórios improvisados vem perdendo espaço para um novo modelo: o da clínica estruturada com visão de negócio. Fisioterapeutas, dentistas e nutricionistas estão cada vez mais assumindo a gestão estratégica dos próprios empreendimentos, adotando práticas administrativas e operacionais típicas de empresas consolidadas.
Segundo dados do Sebrae, mais de 68% dos novos consultórios de fisioterapia abertos entre 2022 e 2024 no Brasil seguiram o modelo de micro ou pequenas empresas, com CNPJ, equipe multidisciplinar e plano de negócios. O fenômeno é reflexo da busca por autonomia real, escalabilidade e estabilidade financeira, fatores que o modelo tradicional, centrado exclusivamente na prática técnica, já não entrega.
Entre os exemplos de sucesso está o da fisioterapeuta cearense Andressa Cavalcante Moreira Lima, que desde 2017 lidera sua própria clínica de fisioterapia esportiva e reabilitação funcional. Reconhecida nacionalmente pelo Prêmio Black Belt Health (2023) e com mais de 800 pacientes atendidos, ela defende que a gestão estratégica foi o divisor de águas da sua trajetória.
“Eu sempre soube que queria ir além do atendimento. Comecei atendendo dentro de uma academia, mas desde o início tratava a estrutura como um negócio, não apenas como espaço de trabalho. Planejamento, reinvestimento e visão de longo prazo foram essenciais para o crescimento sustentável da clínica”, afirma Andressa.
Com formação em fisioterapia pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR), pós-graduação em Osteopatia e qualificação em marketing, vendas e inteligência emocional, Andressa afirma que seu preparo como gestora foi tão importante quanto o domínio clínico. Em 2022, concluiu uma formação específica em marketing para negócios em saúde e, entre 2020 e 2021, investiu em treinamentos de liderança e inteligência emocional voltados para gestão de equipes.
A profissional também é sócia da Propostes, distribuidora de artefatos de concreto, o que ampliou ainda mais sua visão sobre fluxo de caixa, planejamento de expansão e tomada de decisão em ambientes empresariais.
“A saúde precisa ser tratada como serviço. Não no sentido de mercantilização do cuidado, mas no de valorização da entrega e da experiência do paciente. Isso exige estrutura, processos, liderança e clareza de propósito. Se não aprendermos a gerir, ficamos reféns da agenda e da instabilidade”, explica.
Andressa Cavalcante Moreira Lima
Entrevista: O que muda quando o fisioterapeuta vira CEO?
Com Andressa Cavalcante Moreira Lima
Repórter: Qual foi o maior desafio na transição de técnica para gestora?
Andressa: Romper com a ideia de que saber atender é o suficiente. Quando você assume a gestão, passa a ter que pensar em metas, equipe, atendimento humanizado, mas com eficiência, e até em estrutura tributária. Foi um aprendizado constante.
Repórter: Quais competências foram determinantes para essa virada?
Andressa: Liderança, comunicação estratégica e controle financeiro. Os cursos em coaching, inteligência emocional e marketing foram fundamentais. E, claro, o apoio da minha família, especialmente por eu conciliar tudo isso com a maternidade.
Repórter: Para quem está começando, qual conselho você daria?
Andressa: Veja sua clínica como um projeto de impacto. Não tenha medo de investir em capacitação fora da área técnica. A gestão bem-feita é o que garante que o seu talento como profissional chegue a mais pessoas, com consistência e sustentabilidade.
Profissional liberal ou empreendedor?
A ascensão de modelos empresariais entre profissionais da saúde indica uma mudança de paradigma irreversível. O mercado já não recompensa apenas a técnica: ele valoriza visão estratégica, posicionamento e capacidade de gerar impacto contínuo. Casos como o de Andressa mostram que, na prática, o fisioterapeuta de sucesso hoje precisa saber tanto de anatomia quanto de análise de custos.
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