Mercados Emergentes e os Novos Paradigmas do Investimento Global
Especialistas apontam que América Latina e África assumem papel estratégico na geoeconomia internacional com novos modelos de cooperação financeira.

Com a reorganização das cadeias globais de valor e a reconfiguração das relações entre grandes potências econômicas, os mercados emergentes voltaram ao centro do debate sobre o futuro da economia internacional. Países da América Latina e do continente africano, antes vistos apenas como fornecedores de matéria-prima ou receptores de ajuda internacional, agora despontam como territórios estratégicos para investimentos estruturantes, sustentáveis e bilaterais.
O movimento é impulsionado por uma crescente aproximação entre economias do chamado eixo Sul-Sul, que vêm criando novas formas de cooperação financeira baseadas na complementaridade, na infraestrutura e em interesses mútuos de crescimento com impacto social.
Segundo levantamento da UNCTAD divulgado em maio de 2024, o investimento estrangeiro direto em países emergentes cresceu 12% em 2023, superando os fluxos direcionados a economias desenvolvidas. África subsaariana e América do Sul lideram a captação de capital produtivo em setores como energia, transporte, tecnologia, saneamento e habitação.
Para analistas, esse movimento reflete não apenas uma mudança na rota do capital global, mas também uma evolução da própria lógica de investimento, que agora valoriza projetos que geram impacto e estabilidade local.
“Essa nova dinâmica representa mais do que a movimentação de recursos: é a expressão de um modelo de cooperação que busca criar alianças duradouras entre países emergentes, onde o conhecimento local, a sensibilidade cultural e o impacto social são tão importantes quanto o retorno financeiro”, analisa Chang Yung Kong, consultor internacional e especialista em diplomacia econômica com atuação reconhecida na China, África e América Latina.
“Durante muitos anos, a América Latina e a África estiveram à margem das grandes decisões econômicas globais, sendo tratadas apenas como mercados consumidores ou provedores de insumos. Hoje, com maior maturidade institucional e experiência acumulada, essas regiões passam a negociar em pé de igualdade com parceiros estratégicos, como China e Índia, em projetos que geram emprego, infraestrutura e transferência de conhecimento”, afirma.
Chang ressalta ainda que, para aproveitar esse momento, é fundamental que os países emergentes estruturem bons projetos e preparem seus ambientes de negócios para receber investimentos. “Os investidores estão dispostos a aportar recursos, mas esperam clareza jurídica, previsibilidade e compromisso com a execução. A capacidade de dialogar tecnicamente com diferentes culturas é o diferencial que define o sucesso”, conclui.
Chang Yung Kong, consultor internacional e especialista em diplomacia econômica.
Entrevista com Chang Yung Kong
Entrevistador: Qual é o papel da diplomacia econômica Sul-Sul no cenário atual?
Chang: Ela representa uma forma mais simétrica e respeitosa de fazer negócios. É o reconhecimento de que há inteligência, capacidade produtiva e liderança nos países emergentes. Quando estruturada com profissionalismo e visão de longo prazo, essa diplomacia é capaz de transformar realidades e reduzir desigualdades.
Entrevistador: Quais setores o senhor acredita que são mais promissores para essa nova onda de investimentos?
Chang: Energia renovável, tecnologia aplicada ao agronegócio, infraestrutura urbana, habitação acessível e transporte. São áreas com alta demanda social e impacto direto na qualidade de vida. O diferencial é que hoje os projetos vêm acompanhados de soluções e não apenas de capital.
Entrevistador: O que ainda impede maior fluidez nesses investimentos?
Chang: Burocracia, instabilidade política e dificuldade de comunicação entre culturas empresariais diferentes. É por isso que o papel de mediadores e consultores com vivência multicultural se tornou indispensável. Eles ajudam a traduzir, alinhar e acelerar a cooperação.
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